É impressionante como nas últimas décadas o mercado se tornou
especialista em produzir mais e mais tecnologias novas, que nem sempre
são melhores que as anteriores, mas mesmo assim as pessoas convencem-se
que são. Dois exemplos típicos são no âmbito da música: amplificadores
solid state (transistorizados) e mídia CD. Ambos oferecem alguns
benefícios imediatos: os amplificadores produzidos com transístors ao
invés de válvulas tornaram-se mais baratos e leves, assim como o CD
trouxe a vantagem do tamanho flexível, capaz de se transformar
facilmente. Mas em questão de timbre musical, nada se compara aos
amplificadores valvulados e aos nostálgicos vinis. Segue abaixo a
explicação do porquê, diretamente coletada da Matrix:
Válvulas
O
verdadeiro motivo pelo qual amplificadores valvulados soam melhor do
que seus descendentes solid state é a diferença das características de
seus componentes ativos ou seja, válvulas e transistores. Os
transistores saturam-se com extrema facilidade e é exatamente por isso
que é difícil projetar um amplificador solid state com som limpo, sem
distorções. A válvula satura-se com mais dificuldade e por isso os
amplificadores valvulados apresentam um som tão limpo e cristalino.
Mas, quando se usa distorção (saturação) é que os solid state ficam
ridículos (Em tempo: quando falo de distorção/saturação, refiro-me aos
altos volumes e não à utilização de pedais overdrive, ok?).
Os
transistores, assim como as válvulas, geram freqüências inexistentes no
som original (som da guitarra), além de achatar demasiadamente os picos
da forma de onda. Essas freqüências sempre são harmônicos de cada
freqüência original e é aí que reside a principal diferença sonora. Os
transistores geram harmônicos de todas as ordens e as válvulas geram,
apenas, os harmônicos pares. O resultado é uma distorção clara e firme
nos amplificadores valvulados e uma distorção "suja" com graves e
médios-graves "ocos" nos solid state. Num acorde distorcido nos
valvulados notam-se todas as notas; é possível dedilhar deliciosamente
e emendar um solo arrasador seguido de uma palhetada delirante nos
bordões. Nos solid state só conseguimos chegar mais ou menos perto
disso, com amplificadores extremamente bem projetados, de som limpo, e
utilizando overdrives valvulados, mesmo assim obtemos a típica
distorção de pré. Outros dois fatores que moldam o timbre dos
valvulados é a ressonância da própria válvula que é oca e trabalha com
vácuo e o transformador de saída, que não é linear e, portanto introduz
modificações no timbre (Os transistores não necessitam de
transformadores para acoplarem-se aos alto-falantes, já as válvulas,
devido a sua alta impedância de saída, devem ter essa impedância casada
com a dos alto-falantes). Isso modifica drasticamente as
características originais do sinal da guitarra. Um inconveniente da
distorção dos valvulados é que só conseguimos os melhores timbres com
altos volumes (você tem vizinhos?) pois as válvulas saturam-se quando
estão trabalhando com altos ganhos e isso, nos pentodos ou tetrodos de
saída, significa regime de alta potência.
Vinis
No vinil a gravação é analógica, ou seja, as ranhuras produzem na
agulha as vibrações (ondas, senóides) do ar que geraram o som, conforme
foi gravado, com todos os sons harmônicos que são gerados na execução
ao vivo. No CD há uma digitalização dos sons, isto é, cada ponto da
senóide que representa o som é convertido em um grupo de sinais 0 e 1.
Quanto maior a capacidade de gravação dos CD ou quanto menor for o
espaço físico necessário para a gravação digital, que ocupa muito mais
espaço físico para armazenar a mesma quantidade de som (com harmônicos
e tudo) do que um equipamento analógico, melhor será o som do CD. Hoje,
por uma questão do espaço exigido pela tecnologia disponível, há
necessidade de uma redução da quantidade de harmônicos para que caiba
em um CD, portanto, em tese, a qualidade do CD é menor. Ocorre que a
diferença não é quase perceptível pelo ouvido humano médio. Em discos
analógicos de vinil ou alumínio o som é muito
mais "completo" que o do CD, tem todos os harmônicos que foram
produzidos durante a execução ao vivo. O nosso ouvido é analógico e não
digital, se o digital fosse melhor, com certeza nasceríamos com ouvido
digital. A mídia digital tem outros benefícios.
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