Um mergulho profundo no meu Eu/Individual acarreta na compreensão e
harmonização da realidade Coletiva? Bom, parece que é isso que Max
Stirner, tenta mostrar em seu livro "O falso princípio da educação" ,
que terminei de ler hoje. Com a proposta de refutar os dois modelos
educacionais vigentes após a Revolução Francesa (Humanismo e Realismo),
Stirner sugere que o simples saber, desprovido de vida, não deve ser o
objetivo da educação. Condena o Humanismo, corrente educacional que
preocupava-se com a erudição (antiguidade clássica), por considerá-lo
como" forma desprovida de conteúdo", assim como o Realismo, por formar
cidadãos utilizáveis e submissos. O livro, escrito há 130 anos, é
extremamente atual, principalmente quando a análise é feita em relação
ao Realismo. Com a crescente industrialização da sociedade, o Humanismo
praticamente deixou de existir, dando lugar à formação técnica, voltada
para o desempenho de atividades industriais. Hoje, todo o ensino
(primário, ensino médio, universitário) é completamente voltado às
necessidades do mercado, influência marcante do Realismo, que adota a
lógica de formar cidadãos práticos. As instituições de ensino formam
parafusos, dispostos a encaixarem-se precisamente em seus cargos
tediosos. Parafusos que desejam viver e morrer parafusos, ora pois, não
é raro presenciar pessoas perguntando "pra que eu preciso aprender
isso? isso vai me dar dinheiro?". Esse é o reflexo da educação voltada
aos interesses práticos e pessoais. Stirner deixa claro que os
interesses pessoais de nada tem a ver com a relização do Eu Único, da
espontaneidade. Em diversos momentos, sua abordagem metafísica
assemelha-se aos ditos budistas do auto-conhecimento, ou da frase
célebre de Sócrates : "Conhece-te a ti mesmo!". Para ele, a escola
libertária não deve ter outro objetivo senão desformar (e não formar)
indíviduos, torná-los consientes de sua individualidade, como condição
para a liberdade e igualdade. Liberdade e igualdade que inicia-se
consigo mesmo, para emanar no coletivo. Para isso é necessário que o
Saber seja morto, ressuscitando como Vontade, e finalmente sublimando em Querer. Eis
aí presente a fórmula dialética, mas invertida de cima pra baixo, da
esquera pra direita e vice-versa.
Não é necessário dizer que
Stirner foi altamente odiado em seu tempo, e permanece incompreendido
até hoje. Uns dizem que foi o pai do anarco-capitalismo, outros que foi
a principal influência de Nietzsche, e há até quem o considere como uma
das influências de Mussolini. Erros de interpretação a parte, o fato é
que ele enxergou a miséria humana começando em sua (falta de) relação consigo
mesma, a psique. Ao contrário de Marx e outros, que viram todos os
problemas na economia, política, religião, ou seja, externamente. Pode
parecer "weird" , mas pra mim cada vez sinto mais que o Interno é reflexo do
Externo, o Micro do Macro, o Pessoal do Político, o Individual do
Coletivo e assim por diante. Os físicos que o digam, num universo onde
a Ordem parece ser o Caos.