Filmado em 1957, La Cravate (A Gravata) foi o primeiro filme dirigido por Alejandro Jodorowsky. O curta-metragem de 35 minutos é uma adaptação de um conto de Thomas Mann. Sem nenhuma fala, e com um cenário bastante minimalista, o filme nos remete a uma apresentação teatral de mímica. A atuação de Jodorowsky como personagem principal é um grande destaque, fruto de seus estudos de mímica com Marcel Marceau.
Veja o filme, em 3 partes:
http://www.youtube.com/watch?v=HDWtqeRnwJo
Seguem abaixo algumas considerações pessoais sobre o filme:
Enquanto Tom Zé (na música A Gravata) vê na gravata um símbolo do
enforcamento do indíviduo pelo trabalho, Jodorowsky aparentemente a usa
como um símbolo da separação cartesiana. Vestida no pescoço, a gravata
se situa no limiar entre a cabeça e o restante do corpo humano. A
gravata pode ser vista então como a afirmação do dualismo mente-corpo
de Descartes, onde o corpo e a mente situam-se separados e
irreconciliáveis.
De início, o protagonista está orgulhoso de sua bela gravata. Mas
apaixona-se por uma mulher que desejava apenas seu corpo. Tratou então
de encomendar outras cabeças. Mas não adiantou, sua pretendente
conseguia agradar-se apenas com o corpo do rapaz. Provavelmente, se não
estivesse vestindo a gravata, iludido pelo idealismo ou pelo
materialismo, o pobre rapaz não teria se interessado pela moça. Teria
percebido que seu amor estava mais próximo do que imaginava, se não o
tivesse ignorado. Por fim, foi necessário trocar diversas vezes de máscara para que o protagonista descobrisse como ser ele próprio.
Nem amor platônico/idealista, nem puro genitalismo. Ao fim desta bela e
curta estória, Jodorowsky nos convida a jogar a gravata fora e viver o
amor de corpo e mente, fisica e espiritualmente.