Desde que comecei a dar aulas de informática básica no bairro Paranaguamirim, conheci várias pessoas interessantes. O projeto está ligado à rede popular de inclusão digital, que tem como objetivo oferecer cursos gratuitos de informática em diversos bairros de Joinville. Sendo assim, acabo conhecendo pessoas simples, cada uma com suas histórias e conhecimentos pra transmitir. Uma das pessoas que mais me chamou a atenção, foi o Seu Carlos. Com 60 anos de idade, já tendo feito de quase tudo na vida, e atualmente fazendo alguns trabalhos como pedreiro e artesão, Carlos resolveu cair fundo na informática. Depois de ter concluído o curso, continuou comparecendo às aulas, me ajudando a ensinar coisas que ele já havia aprendido. Aliás, já fazem mais de 2 meses que ele terminou o curso, e ainda continua indo, me ajudando a desmanchar a figura de professor, que tento não representar. As aulas de informática acabam servindo como laboratório de experiências, onde é possível perceber na prática que todo autoritarismo tem o único objetivo de afastar as pessoas, matar a inteligência e conduzir à ignorância. Tive alguns casos que não soube o que fazer, por exemplo com uma menina, a Daniele, que só faltou destruir os computadores. Em vez de utilizar a minha autoridade como professor, tentei simplesmente falar que ela não precisava assistir à aula se não quisesse, e que o pior castigo que ela poderia receber é de ganhar o diploma do curso sem ter aprendido a utilizar o computador (o que a falta de atenção dela estava conduzindo). Aí ela se tocou um pouco, viu que no fim das contas não estava ali por obrigação, e que continuando a correr pelo laboratório não ia ajudá-la nos aprendizados.
Há uns 8 anos atrás, vasculhando nos livros do meu pai, encontrei um que me chamou a atenção, se chamava: "Liberdade sem medo" , de A. S. Neil. O livro trata de uma escola chamada Summerhill, onde os estudantes só estudam se assim desejarem, nenhuma obrigação, ou submissão. Alguns chegavam a ficar anos apenas brincando, e em algum momento, por alguma razão, começavam a ter interesse sobre química, física, biologia, etc.. Fiquei encantado com o modelo educacional, baseado não nas obrigações, mas na liberdade. Até hoje, quando penso no desejo que tenho de ser professor, é com esse modelo que sonho.
Só pra terminar, voltando ao Seu Carlos. No intervalo das aulas, ele levou um caderno velho, e passou alguns de seus poemas para o computador. Agora, você e o mundo inteiro terá o privilégio de lê-los, publicados na rede mundial de computadores. Visite aqui a página do Carlos. Pretendo com o tempo publicar outros textos de pessoas que fazem o curso =)
Grande Oriel,
muito legal ver que você ta fazendo o que gosta, trabalhando com pessoas, software livre(?). e além do mais, com teu senso crítico sempre querendo mutar o que parece imutável.
*diz pro seu Carlos, que os poemas dele são mt bons! pede pra ele por uma foto dele lá.
abs,
jp.