Fausto, de Fernando Pessoa

Beber a vida num trago, e nesse trago

Todas as sensações que a vida dá

Em todas as suas formas […]

É com essa frase que se inicia a
peça de teatro que assisti hoje, baseada no texto "Primeiro Fausto" de
Fernando Pessoa, que por sua vez, é baseado no mito original contado
por Goethe. A imutável condição humana, a incapacidade de compreensão
da realidade ou verdade final, é o tema exposto nesse monólogo. Seria
fácil se a vida pudesse ser compreendida num trago, como Fausto almeja
no início da peça.

Porém, parece impossível compreender a vida,
restando apenas vivê-la. Fausto, não se contenta com isso, e vai
afundando cada vez mais em seus devaneios existenciais. Perambulando de
um lado para o outro em cima de um tabuleiro de xadrez até, em última
instância, encontrar-se consigo mesmo. Segurando um espelho, e olhando
a si próprio, questiona o paradoxo fundamental da existência: será o
momento da morte a única forma de explicar a vida? Ou será que a morte
simplesmente nos levará a outras formas de vida, também sem explicação,
e a falta de sentido seja a verdade universal? 

O lirismo
utilizado na peça (foram utilizados os versos originais de Fernando
Pessoa) pode torná-la um pouco mais complexa para a compreensão
imediata, mas traz uma beleza sem igual ao/à expectador/a. Estamos
acostumados com o imediatismo de frases diretas, ou imagens prontas nas
telas de cinema hollywoodianas, que estão matando nossa percepção
crítica e criativa.

Por fim, os efeitos sonoros e visuais em um
telão deram um ar moderno ao mito, que continua sendo o problema
central da filosofia, e por isso dificilmente deixará de parecer atual,
mesmo com o personagem Fausto vestindo roupas típicas do século XVII e
XIX.

Recomendo fortemente que assistam à peça, está em exibição todas
as quartas de agosto e setembro, às 20h, na Cidadela Cultural da Antarctica. Parte do texto de Pessoa pode ser lido aqui.

La Revancha del Tango

Hoje tive um novo companheiro para as longas jornadas de ônibus, o Gotan Project, uma banda que já havia ouvido falar, e só fui ouvir com atenção agora. Não sei como não conheci isso antes, é sensacional! Imagine um dub que ao invés de reggae, utilize o tango como base nas experimentações? Estão lá todos os ingredientes: toneladas de efeitos delay e reverb, com batidas eletrônicas, mas acrescidas do bandoneón (espécie de acordeão) e piano. O grupo é formado por um argentino, um suíço e um francês. Ouvindo uma das músicas do disco "La Revancha del Tango" (2001) , tive a sensação de que já havia ouvido antes, e de fato estava certo. Foi usada na trilha sonora do excelente documentário Surplus, (uma crítica ardente ao consumismo exacerbado da sociedade moderna). E esse é o ingrediente final à fórmula do Gotan Project, pequenas vinhetas políticas, imersas no oceano instrumental de suas músicas. Seja no momento de crise, do "Que se vayan todos" da Argentina de 2001, ou no quase mantra "Queremos Paz". Há um outro disco deles, chamado "Lunático" (2006), que já está na minha lista de desejos do Nicotine (cliente Soulseek, para Linux).

Inclusão Digital e Poesia (não necessariamente nesta ordem)

homem de bonéDesde que comecei a dar aulas de informática básica no bairro Paranaguamirim, conheci várias pessoas interessantes. O projeto está ligado à rede popular de inclusão digital, que tem como objetivo oferecer cursos gratuitos de informática em diversos bairros de Joinville. Sendo assim, acabo conhecendo pessoas simples, cada uma com suas histórias e conhecimentos pra transmitir. Uma das pessoas que mais me chamou a atenção, foi o Seu Carlos. Com 60 anos de idade, já tendo feito de quase tudo na vida, e atualmente fazendo alguns trabalhos como pedreiro e artesão, Carlos resolveu cair fundo na informática. Depois de ter concluído o curso, continuou comparecendo às aulas, me ajudando a ensinar coisas que ele já havia aprendido. Aliás, já fazem mais de 2 meses que ele terminou o curso, e ainda continua indo, me ajudando a desmanchar a figura de professor, que tento não representar. As aulas de informática acabam servindo como laboratório de experiências, onde é possível perceber na prática que todo autoritarismo tem o único objetivo de afastar as pessoas, matar a inteligência e conduzir à ignorância. Tive alguns casos que não soube o que fazer, por exemplo com uma menina, a Daniele, que só faltou destruir os computadores. Em vez de utilizar a minha autoridade como professor, tentei simplesmente falar que ela não precisava assistir à aula se não quisesse, e que o pior castigo que ela poderia receber é de ganhar o diploma do curso sem ter aprendido a utilizar o computador (o que a falta de atenção dela estava conduzindo). Aí ela se tocou um pouco, viu que no fim das contas não estava ali por obrigação, e que continuando a correr pelo laboratório não ia ajudá-la nos aprendizados.

Há uns 8 anos atrás, vasculhando nos livros do meu pai, encontrei um que me chamou a atenção, se chamava: "Liberdade sem medo" , de A. S. Neil. O livro trata de uma escola chamada Summerhill, onde os estudantes só estudam se assim desejarem, nenhuma obrigação, ou submissão. Alguns chegavam a ficar anos apenas brincando, e em algum momento, por alguma razão, começavam a ter interesse sobre química, física, biologia, etc.. Fiquei encantado com o modelo educacional, baseado não nas obrigações, mas na liberdade. Até hoje, quando penso no desejo que tenho de ser professor, é com esse modelo que sonho.

Só pra terminar, voltando ao Seu Carlos. No intervalo das aulas, ele levou um caderno velho, e passou alguns de seus poemas para o computador. Agora, você e o mundo inteiro terá o privilégio de lê-los, publicados na rede mundial de computadores. Visite aqui a página do Carlos. Pretendo com o tempo publicar outros textos de pessoas que fazem o curso =)

Macacos-prego se rebelam!

notícia que recebi do seu Moésio Rebouças (A.N.A): 

O título original da matéria (ler abaixo) é esse: "Macacos-prego causam
prejuízo e viram caso de polícia em Pernambuco". Mas mudei, dei mais
sentido à ação dos macacos, pois dá para perceber que os animais estão
é se rebelando contra essa praga chamada "ser humano", vida civilizada,
prisões, domesticação. Casos parecidos como esses já aconteceram na
África, inclusive envolvendo outros animais, principalmente elefantes.

Putz,
quando acabei de ler essa nota perdi o fôlego, meu corpo parecia uma
centelha, queimava. Queria explodir de alegria! Sei lá, nos tempos que
correm de tantas imbecilidades humanas, essa notícia lavou a minha
alma. Quanta dignidade desses macacos!

Que bom, mas que bom
saber que os animais ainda estão com instintos selvagens afiados, que
não se renderam, não se curvaram, que "tão botando pra quebrar", ao
contrário do "ser humano", conformado, manso, obediente, bom cidadão,
arrogante, prepotente… Argh!

A destruição é criativa!

Viva
os animais! Viva a Natureza! Viva a rebelião! Ninguém, nenhum maldito
deterá a Revolução da Natureza, ela está vindo, conseguem perceber,
sentir?

Livres e Selvagens!

Macacos-prego causam prejuízo e viram caso de polícia em Pernambuco

Dois
macacos-prego viraram caso de polícia, em Exu (699 km de Recife), após
invadir e causar prejuízos em pelo menos cinco casas da cidade nos
últimos dez dias. Em um dos imóveis, um dos animais promoveu um
incêndio, segundo moradores.

Na quarta-feira (08), um dos
macacos foi detido por moradores que se prontificaram a levá-lo ao
escritório do Ibama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis em Crato (533 km de Fortaleza). Até esta
segunda-feira (13), ele não havia chegado ao órgão.

No sábado
(11), moradores acionaram a polícia para retirar outro macaco de uma
casa. O delegado de Exu, Romildo dos Santos, disse que levou o animal
ao Ibama, onde está em quarentena. Ele afirmou que não há como saber
qual animal foi responsável por cada invasão.

"Ficamos sabendo que ele entrou na casa de um pastor e fez a maior
bagunça. Quebrou o teclado do computador, espalhou comida pela casa e
até rasgou as páginas de uma bíblia", disse Santos.

O chefe do
Ibama em Crato, Eraldo Oliveira, disse que o macaco entregue ao órgão é
do sexo feminino e tem cerca de três anos. "Estamos com 11 macacos.
Todos eles parecem ter sido criados em cativeiro, inclusive esse último
que recebemos. Eles não podem ser soltos na natureza pois não
sobreviveriam", disse.

O professor Francisco Moreira Lopes
disse que pensou ter sido vítima de um trote quando foi informado, na
quarta-feira, que um macaco havia colocado fogo em sua casa. "Perdi
roupas, colchão, tapete, aparelho de DVD e ainda vou ter que pintar a
casa toda", disse Lopes, que estima um prejuízo de R$ 3.000.

O
delegado Santos disse que está investigando quem eram os donos dos
macacos. "Eles (macacos) não podem ser responsabilizados pelo que
cometeram, mas seus donos podem."

Uberaba – Nesta terça-feira
(14), a Prefeitura de Uberaba (494 km de Belo Horizonte) constituiu uma
comissão de biólogos e veterinários para definir o futuro do macaco
Chico, que vive em uma mata da cidade há cinco anos.

Chico é
acusado de promover invasões na vizinhança e em prédio público, furtar
e destruir objetos e documentos e atacar visitantes. Somente em julho,
18 ocorrências de mordidas foram registradas por freqüentadores da Mata
do Ipê.

De volta aos ruídos

Depois de um bom tempo parado, sem tocar com nenhuma banda, já até
havia me esquecido do poder que essa coisinha chamada música tem, a
energia que ela dá à vida. Tivemos o segundo ensaio hoje com uma banda
nova ( eu – guitarra, Bruno – baixo e Gustavo – bateria). Já gravamos a
primeira música que estamos ensaiando, com a câmera digital do Gustavo, mas tem
uma parte que está quase impossível de acertarmos. (o som gravado pode
ser baixado aqui) Quem sabe daqui a alguns meses não estamos tocando em algum canto de Joinville?

E
além disso, no domingo (12/08) iremos tocar com o "eu contra o mundo"
no "Salada show",  com as bandas Old Machine, Sylverdale e Posex, às
16h no Bar Funil. Preparamos mais umas demos pra levar ao show
(provavelmente foram as últimas feitas).  Sobre o futuro do "ecom", não
sei como vai ser. Temos uma música nova "redondinha", seria
interessante ensaiar mais umas 3 para lançar mais algum material. Mas
com o Leo morando em Floripa, a coisa fica bem complicada. Por
enquanto, vamos deixar as coisas acontecerem. "Just floating by the stream".

Saber – Vontade – Querer

Max StirnerUm mergulho profundo no meu Eu/Individual acarreta na compreensão e
harmonização da realidade Coletiva? Bom, parece que é isso que Max
Stirner, tenta mostrar em seu livro "O falso princípio da educação" ,
que terminei de ler hoje. Com a proposta de refutar os dois modelos
educacionais vigentes após a Revolução Francesa (Humanismo e Realismo),
Stirner sugere que o simples saber, desprovido de vida, não deve ser o
objetivo da educação. Condena o Humanismo, corrente educacional que
preocupava-se com a erudição (antiguidade clássica), por considerá-lo
como" forma desprovida de conteúdo", assim como o Realismo, por formar
cidadãos utilizáveis e submissos. O livro, escrito há 130 anos, é
extremamente atual, principalmente quando a análise é feita em relação
ao Realismo. Com a crescente industrialização da sociedade, o Humanismo
praticamente deixou de existir, dando lugar à formação técnica, voltada
para o desempenho de atividades industriais. Hoje, todo o ensino
(primário, ensino médio, universitário) é completamente voltado às
necessidades do mercado, influência marcante do Realismo, que adota a
lógica de formar cidadãos práticos. As instituições de ensino formam
parafusos, dispostos a encaixarem-se precisamente em seus cargos
tediosos. Parafusos que desejam viver e morrer parafusos, ora pois, não
é raro presenciar pessoas perguntando "pra que eu preciso aprender
isso? isso vai me dar dinheiro?". Esse é o reflexo da educação voltada
aos interesses práticos e pessoais. Stirner deixa claro que os
interesses pessoais de nada tem a ver com a relização do Eu Único, da
espontaneidade. Em diversos momentos, sua abordagem metafísica
assemelha-se aos ditos budistas do auto-conhecimento, ou da frase
célebre de Sócrates : "Conhece-te a ti mesmo!". Para ele, a escola
libertária não deve ter outro objetivo senão desformar (e não formar)
indíviduos, torná-los consientes de sua individualidade, como condição
para a liberdade e igualdade. Liberdade e igualdade que inicia-se
consigo mesmo, para emanar no coletivo. Para isso é necessário que o
Saber seja morto, ressuscitando como Vontade, e finalmente sublimando em Querer. Eis
aí presente a fórmula dialética, mas invertida de cima pra baixo, da
esquera pra direita e vice-versa.

Não é necessário dizer que
Stirner foi altamente odiado em seu tempo, e permanece incompreendido
até hoje. Uns dizem que foi o pai do anarco-capitalismo, outros que foi
a principal influência de Nietzsche, e há até quem o considere como uma
das influências de Mussolini. Erros de interpretação a parte, o fato é
que ele enxergou a miséria humana começando em sua (falta de) relação consigo
mesma, a psique. Ao contrário de Marx e outros, que viram todos os
problemas na economia, política, religião, ou seja, externamente. Pode
parecer "weird" , mas pra mim cada vez sinto mais que o Interno é reflexo do
Externo, o Micro do Macro, o Pessoal do Político, o Individual do
Coletivo e assim por diante. Os físicos que o digam, num universo onde
a Ordem parece ser o Caos.