Beber a vida num trago, e nesse trago
Todas as sensações que a vida dá
Em todas as suas formas […]
É com essa frase que se inicia a
peça de teatro que assisti hoje, baseada no texto "Primeiro Fausto" de
Fernando Pessoa, que por sua vez, é baseado no mito original contado
por Goethe. A imutável condição humana, a incapacidade de compreensão
da realidade ou verdade final, é o tema exposto nesse monólogo. Seria
fácil se a vida pudesse ser compreendida num trago, como Fausto almeja
no início da peça.
Porém, parece impossível compreender a vida,
restando apenas vivê-la. Fausto, não se contenta com isso, e vai
afundando cada vez mais em seus devaneios existenciais. Perambulando de
um lado para o outro em cima de um tabuleiro de xadrez até, em última
instância, encontrar-se consigo mesmo. Segurando um espelho, e olhando
a si próprio, questiona o paradoxo fundamental da existência: será o
momento da morte a única forma de explicar a vida? Ou será que a morte
simplesmente nos levará a outras formas de vida, também sem explicação,
e a falta de sentido seja a verdade universal?
O lirismo
utilizado na peça (foram utilizados os versos originais de Fernando
Pessoa) pode torná-la um pouco mais complexa para a compreensão
imediata, mas traz uma beleza sem igual ao/à expectador/a. Estamos
acostumados com o imediatismo de frases diretas, ou imagens prontas nas
telas de cinema hollywoodianas, que estão matando nossa percepção
crítica e criativa.
Por fim, os efeitos sonoros e visuais em um
telão deram um ar moderno ao mito, que continua sendo o problema
central da filosofia, e por isso dificilmente deixará de parecer atual,
mesmo com o personagem Fausto vestindo roupas típicas do século XVII e
XIX.
Recomendo fortemente que assistam à peça, está em exibição todas
as quartas de agosto e setembro, às 20h, na Cidadela Cultural da Antarctica. Parte do texto de Pessoa pode ser lido aqui.


Desde que comecei a dar aulas de informática básica no bairro Paranaguamirim, conheci várias pessoas interessantes. O projeto está ligado à rede popular de inclusão digital, que tem como objetivo oferecer cursos gratuitos de informática em diversos bairros de Joinville. Sendo assim, acabo conhecendo pessoas simples, cada uma com suas histórias e conhecimentos pra transmitir. Uma das pessoas que mais me chamou a atenção, foi o Seu Carlos. Com 60 anos de idade, já tendo feito de quase tudo na vida, e atualmente fazendo alguns trabalhos como pedreiro e artesão, Carlos resolveu cair fundo na informática. Depois de ter concluído o curso, continuou comparecendo às aulas, me ajudando a ensinar coisas que ele já havia aprendido. Aliás, já fazem mais de 2 meses que ele terminou o curso, e ainda continua indo, me ajudando a desmanchar a figura de professor, que tento não representar. As aulas de informática acabam servindo como laboratório de experiências, onde é possível perceber na prática que todo autoritarismo tem o único objetivo de afastar as pessoas, matar a inteligência e conduzir à ignorância. Tive alguns casos que não soube o que fazer, por exemplo com uma menina, a Daniele, que só faltou destruir os computadores. Em vez de utilizar a minha autoridade como professor, tentei simplesmente falar que ela não precisava assistir à aula se não quisesse, e que o pior castigo que ela poderia receber é de ganhar o diploma do curso sem ter aprendido a utilizar o computador (o que a falta de atenção dela estava conduzindo). Aí ela se tocou um pouco, viu que no fim das contas não estava ali por obrigação, e que continuando a correr pelo laboratório não ia ajudá-la nos aprendizados.
Um mergulho profundo no meu Eu/Individual acarreta na compreensão e