Esse ano participei pela primeira vez do Fórum
Internacional do Software Livre, (FISL) que já se encontra em
sua nona edição. O Fórum acontece todo ano em
Porto Alegre e é um encontro da cultura hacker, que atrai
geeks do Brasil e do mundo todo, que lidam com tecnologias de código
aberto como o sistema operacional GNU/Linux. Pelos relatos que tive
de pessoas que já participaram em outros anos, pode-se notar
que o FISL está se tornando cada vez mais comercial, com filas
e filas de distribuição de brindes, como camisas da
Intel, Google, etc. Mas nem por isso o evento é descartável,
acontecem muitas palestras e atividades interessantes por lá,
tanto no nível binário (palestras e discussões
técnicas) quanto humano (palestras e discussões sobre a
filosofia de toda a coisa e sobre o futuro).
Assisti diversas palestras sobre a linguagem de
programação Python, aprendi um pouco de Ruby e
Smalltalk também. Além das palestras técnicas,
fiquei bastante contente com algumas discussões que
aconteceram em palestras não técnicas.
Uma palestra, com Sergio Amadeu, Gustavo Gindre, entre outros, tinha o título sugestivo de “o
fantasma do espectro” e trouxe um estudo histórico sobre os
espectros (eletromagnéticos) de transmissão de rádio
e TV e como eles possiblitam uma comunicação
bidirecional, onde uma pessoa comum poderia tanto receber como enviar
áudio e vídeo. Porém, por volta dos anos 50, os
espectros foram regulamentados de forma a serem concedidos faixas de
transmissão apenas a algumas poucas empresas, que continuam
até hoje agindo como manipuladoras da opinião pública
e do senso comum. Uma discussão importante nesse sentido é
sobre a TV Digital, que está em fase de implantação
em todo o país. A TV Digital, da mesma forma que o rádio
e TV analógicos, possui recursos tecnológicos para que
as pessoas não apenas assistam programas, mas também
produzam, e colaborem na criação. Mas infelizmente, o
protocolo que está sendo implantado no Brasil parece não
utilizar desta tecnologia.
"A internet surgiu da improvável
intersecção entre os militares, a big science e a
cultura hacker libertária"
A Internet, em contrapartida, é
revolucionária no sentido de garantir um espaço de
expressão para qualquer pessoa que deseje. Porém, uma
porcentagem muito baixa da populção tem acesso à
rede, e infelizmente continua tendo seus cérebros infectados
pelo que é transmitido na TV aberta.
Conheci também um trabalho muito interessante de um belga
chamado Etienne Delacroix, através da palestra que ele
realizou no FISL, que me interessou logo pelo nome: "Bits,
átomos, linguagens e sistemas". Ele mescla um trabalho de
metareciclagem, em que se realiza improvisações
técnicas com uma pedagogia no mínimo interessante.
Consegue explicar e demonstrar o deslocamento de bits para crianças
de forma extremamente pedagógica, quase mágica. Etienne
argumenta (parafraseando Deleuze) que a cultura moderna é
incompleta, no sentido de dar apenas utilidade aos objetos
tecnológicos, e não pensar sobre seus significados. Uma
cultura extremamente baseada no concreto. O resultado disso é
um acúmulo tão grande de máquinas que se torna
difícil saber do porquê estarem sendo construídas
em quantidades cada vez maiores.
Sua linha de trabalho se baseia em unificar a
computação com a arte, a partir dos Atelier-labs. Esse
vídeo mostra um trabalho realizado por Delacroix, uma espécie
de bateria eletrônica montada a partir da reciclagem de pedaços
de HD’s estragados: