Faz muito tempo que não escrevo por aqui. Acho que esses últimos meses têm sido difíceis para que eu conseguisse tirar um tempo para isso. Analisando melhor, a questão não se trata exatamente de tempo, mas de energia, uma vez que a jornada de trabalho dupla que acabei por aceitar esse ano me tirou boa parte da energia disponível. Assim, minha produtividade enquanto indivíduo se resumiu basicamente a escrever códigos de computador para os meus patrões. A partir dessa situação de 12 horas de trabalho por dia, pela primeira vez senti na prática o papel amortecedor que a televisão possui em nossa sociedade. Chegar em casa depois de um dia de trabalho e não conseguir fazer mais nada além de ficar sentado em frente a uma tela. Bem vindo ao mundo real.
Por algum motivo que não posso explicar exatamente, depois de ter terminado no ano passado minha graduação em ciência da computação, resolvi continuar meus estudos fora do país. Talvez fosse uma necessidade de respirar ares diferentes, ver a paisagem de um ponto de vista que não fosse o ar industrial de Joinville. Encontrei então um curso de mestrado em Saint Etienne-França que se encaixava perfeitamente nos meus interesses de pesquisa, na área de cores e visão computacional. Infelizmente não consegui nenhuma bolsa até o momento, o que me levou à decisão de trabalhar em jornada dupla para juntar dinheiro e assim me sustentar durante meus estudos.
As experiências que tive com o mercado de trabalho foram a confirmação de que eu iria seguir uma carreira acadêmica. O mercado de trabalho, como o conheci, respira sem pudor as contradições do capitalismo e apenas reproduz essa ordem, onde pessoas são números e você precisa escolher entre ser o explorador ou o explorado. Não que a academia não tenha seus problemas (no meu ponto de vista crítico ao autoritarismo e a burocracia), mas me parece que as possibilidades são mais interessantes em um ambiente acadêmico onde a produção e a pesquisa não estejam totalmente voltadas ao lucro. Claro que essa decisão de seguir carreira acadêmica foi também influenciada pelo meu interesse por ciência, filosofia e arte, principalmente sob um horizonte de possível mistura desses interesses, como temos feito com o grupo MuSA.
Acho que vale comentar que a experiência de partir é um tanto confusa. O que vai, o que fica? Serei a mesma pessoa em outro lugar? Seria covardia deixar sua cidade em busca de outro lugar em vez de ficar e tornar sua cidade um lugar melhor?
Mas olhando por outro lado, tenho impressão de que essa não é a primeira vez que estou partindo. Mesmo vivendo em um mesmo lugar, estamos sempre chegando e partindo, conhecendo novos territórios, pessoas, amores e idéias, para em seguida nos despedirmos e reiniciarmos nossa viagem.