Bicicletada em Joinville!

 

A bicicletada, antes de tudo, não é apenas um passeio ciclístico,
tampouco, apenas um protesto. É um passeio crítico, uma coincidência
organizada, e por isso escolhemos o horário de pico para pedalar.
Joinville é um caso típico da insustentabilidade dos automóveis. A
cidade, como tantas outras no país e no mundo, já não possui estrutura
para suportar o fluxo de tantos carros, principalmente nos horários de
pico. Ninguém realmente pode correr nesta hora e está cada vez mais
difícil andar rápido de carro (para felicidade dos que atravessam as
ruas). De forma contraditória, Joinville, é considerada a cidade das
bicicletas, mas somente os ciclistas notam que a cidade tem menos de
meia dúzia de ciclovias.

 

Antes da tirania dos automóveis, as cidades costumavam ser um espaço de
convivência, as ruas e praças eram lugares para se estar. Hoje, com as
modificações causadas pelo crescente uso de carros, as cidades
tornaram-se barulhentas, cinzas, fedorentas e as ruas apenas lugares
para se passar. 40 mil mortes por ano causadas por acidentes de carro,
efeito estufa, buracos na camada de ozônio, e a mídia continua dizendo
que precisamos comprar mais carros para sermos socialmente aceitos.
Todo o processo de degradação do ambiente e o aquecimento global é
acelerado pela fumaça dos automóveis. Se não fizermos algo agora, num
futuro não muito distante a superfície de nosso planeta irá tornar-se
tão hostil à sobrevivência quanto às superfícies de Marte ou de Vênus.
Nós pensamos a bicicleta como um meio de transporte. Nós e as milhares
de pessoas que não têm um carro ou preferem usar a bicicleta para
trabalhar, estudar e se locomover. A utilização da bicicleta consiste em
uma prática ecológica, saudável e divertida. Venha pedalar conosco em
todas as últimas sexta-feiras do mês! Venha de bicicleta skate, patinete
ou patins! Só não venha de carro!

 

Local de encontro: Praça do Mercado Municipal

Horário: 18h

Quando: Toda última sexta-feira do mês, começando em 25/01/2008

Trajeto: A ser definido no início da bicicletada

Afrobeat: Jazz, Groove e resistência!

Ao falar sobre música como forma de resistência e/ou indignação em relação às atrocidades da ordem vigente, normalmente pensa-se em movimentos como o Folk estadunidense (notoriamente Woody Guthrie e seu pupilo Bob Dylan) e o Punk, que  espalhou belas práticas como a do faça-você-mesmo. Mas há um paralelo africano com esses movimentos que infelizmente é pouquíssimo conhecido, o Afrobeat. Criado por Fela Ransome Kuti, o Afrobeat é uma mistura de jazz, funk e ritmos tradicionais africanos (highlife music). Fela Kuti nasceu na Nigéria e na juventude mudou-se para Londres a fim de estudar medicina, mas foi a música que capturou sua essência. Na Inglaterra mesmo, ele formou a banda ‘Koola Lobitos’.

No final dos anos 60, Fela Kuti foi para os Estados Unidos e gravou o disco, ‘The Los Angeles sessions’, e conheceu o grupo anti-racista ‘Panteras Negras’ que lhe mostrou o movimento blackpower, e acabou definindo sua luta política em prol de movimentos sociais na sua terra natal, tanto que ele renomeou a banda para ‘Nigéria 70’. Fela adotou o nome Anikulapo, que significava ‘aquele que carrega a morte no bolso’, e repudiou o nome Ransome por ser o nome de escravo da família. Com títulos sugestivos como Vagabundos no Poder, as músicas de Fela ridicularizavam os militares e a elite nigeriana, que cada vez mais explorava os pobres e usava da violência no regime ditatorial. Fela Kuti, muitas vezes, falava de problemas e tristeza em meio a percussões, sax, vozes femininas, bateria – groove. Sua mensagem passava do campo político para o campo humano, o que produzia uma atmosfera de identificação e prazer em suas apresentações, um clima de interação. O cenário de seus shows, um emaranhado de som, imagens, dança, ilusão e sonho, estava diretamente ligado a suas lutas e àquilo em que acreditava.

No auge de sua rebeldia – e megalomania -, Fela juntou seus seguidores e fundou a república de Kalakuta, declarando-a independente da Nigéria. O lugar, um conjunto de casas pintadas de amarelo e cercadas por arame farpado, tornou-se o lar perfeito para o retorno às raízes africanas que Fela tanto buscava em suas canções. O músico passava a maior parte dos dias sentado em um trono, vestindo apenas uma tanga e fumando baseados de maconha egípcia que impressionavam pelo tamanho. Para completar, casou-se com 27 mulheres de uma só vez, em uma cerimônia tribal que faria inveja a qualquer rockstar americano.

Na noite de 18 de fevereiro de 1977, mil soldados do exército nigeriano montaram cerco à comuna conhecida como República de Kalakuta. A missão era calar o maior popstar e rebelde antimilitarista africano: Fela Kuti. Mulheres foram estupradas pelos soldados e a mãe de Fela Kuti foi atirada do segundo andar de sua própria casa, vindo a falecer alguns meses depois. Fogo, destruição e a prisão de Fela Kuti foram os resultados da ação militar. Depois de um período de exílio em gana, o músico retornou à Nigéria. Durante os anos que se seguiram, Fela continuou a desafiar os militares e a ditadura na Nigéria e voltou para a cadeia algumas vezes, até que no dia 2 de agosto de 1997, morreu vítima da aids. 

Sua música criativa e sincera ficou como influência em grandes jazzistas como Femi Kuti, (filho do Fela) o etíope Mulatu Astatke e o excelentíssimo grupo novaiorquino Antibalas Afrobeat Orchestra. O Antibalas é um dos meus grupos favoritos e está na ativa seguindo a tradição do afrobeat, juntando ritmos dançantes e experimentalismo à uma profunda mensagem política e humana.

Energia livre marca gol!

Tesla botando pra quebrarHá um bom tempo cultivei um grande interesse por iniciativas de
geração de energia alternativa/livre, especialmente quando li um texto
que narra algumas das alucinantes experiências de Nikola Tesla. Tesla foi provavelmente o maior hacker que já existiu,
muito antes da computação ou do termo ter sido criado. Além de ter
compreendido como ninguém os fenômenos eletromagnéticos, inventando as
bobinas, a geração alternada de energia elétrica e diversas outras,
gastou boa parte de sua vida procurando uma solução sustentável de
energia, que garantisse seu acesso gratuito à todos/as, independente de
classes sociais. Nesse ponto, Tesla mostrou ser um cientista preocupado
com os fins que seus inventos seriam utilizados, negando várias vezes
trabalhar para o exército, ao contrário de gente como John Von Neumann,
considerado o criador da computação, que utilizou sua inteligência e
genialidade matemática para ajudar os militares estadunidenses a matar
pessoas de forma mais "criativa".

Tesla percebeu que o próprio
solo e o planeta terra são grandes condutores elétricos, repletos de
energia eletromagnética, bastando apenas conseguir captar essas
radiações de forma adequada em circuitos de corrente elétrica. Quando
ele construiu seus primeiros geradores a partir desses conceitos,
percebeu que há uma energia muito maior que ele imaginava presente na
atmosfera (orgônio?), tanto que com a captação da energia, incendiou um
de seus laboratórios e fez com que toda uma cidade ficasse sem energia
elétrica, pois seus equipamentos não estavam preparados para tal
(over)dose de energia. J.P. Morgan, investidor e banqueiro, parou de
investir nas pesquisas de Tesla quando percebeu o problema que um
gerador que capta energia renovável livremente causaria aos grandes
capitalistas da época. O lucro das maiores corporações petrolíferas, os
governos e talvez o próprio sistema de produção capitalista seriam
ameaçados pelos gerados de Tesla, pois se as pessoas pudessem ter
energia elétrica barata ou de graça, poderiam tornar-se
auto-suficientes em alguns pontos, sem dependência de instituições
lucrativas. %

Gerador TestatikaCom
muito entusiasmo, recentemente tomei nota de uma comunidade na suíça
chamada Methernita estar utilizando o que parece ser o primeiro gerador
funcional de energia livre, depois das experiências de Tesla.
Methernitha é ao mesmo tempo uma cooperativa/comunidade e um conjunto
de pessoas que partilham uma mesma visão cristã primitiva, o chamado
comunalismo cristão, forma de organização predominante antes do
cristianismo ter sido adotado por Roma e idealizado por gente como
Leonardo Boff e a Teologia da Libertação. A comunidade se organiza
sustentavelmente – sem poluir o ambiente – e sem depender do estado
suiço para obtenção de energia elétrica. Parece que algúem por lá leu
muito Tolstoi, hehehe.

Nessa página,
Paul Baumann, engenheiro e visionário criador do gerador Testatika
explica detalhadamente as bases físicas, filosóficas e religiosas (!)
do gerador. A questão é, nem Baumann entende completamente o
funcionamento da engenhoca. Tudo o que pode-se afirmar é que trata-se
de um gerador eletrostático com dois discos/bobinas baseado numa
máquina eletrostática de 1889 chamada Pidgeon. Se Baumann fosse um
cientista, ao invés de técnico/engenheiro, nunca perderia 20 anos em
cima da construção do Testatika, porquê esse gerador e qualquer gerador
de energia livre fere a primeira lei da termodinâmica (princípio de
conservação de calor e energia) e os cientistas nunca iriam tentar nada
que vá contra alguma lei (sagrada) da física. Vejamos o que Baumann
fala sobre a construção de seu gerador:

"This wonder machine is lurked from nature, nothing else. Nature is the
greatest source of power as well as knowledge which man has, and it
still conceals many secrets, which are only revealed to those, who
approach and tie in with them with highest respect and responsibility.
To understand nature and to perceive its voice, man is obliged to
experience silence and solitude, and it was there, where the knowledge
about this technology was obtained."

Nesse ponto começamos a entender o lado freak/visionário de Baumann, ele afirma que
aprendeu a tecnologia do gerador nada mais nada menos que com a Mãe
Natureza (!), que lhe ensina os segredos a quem se aproxima dela com
responsabilidade. Os mas céticos certamente vão a loucura ao ler isso.
E esse trecho complementa:

"This machine puts experts, which are just trained in conventional physics
to a very hard test, because its mode of action is not explainable with
the state of the art of officially accepted physical knowledge, or at the
most only partially explainable. However also a trained specialist should
remain free and independent in his thinking, and should avoid to be limited
by the temporal framework of publicly admitted knowledge in any science"

Ou
seja, ele afirma que as leis atuais da física não são suficientes para
explicar o princípio fundamental do gerador. Em outros trechos, Baumann
complementa sua visão místico/religiosa: "The hard facts rather
show how far man has left the divine order through
his self willed and authoritarian way of action and that he has become
the actual cause of all discord and evil on this planet. Unfortunately
the ruling bodies that should be responsible for the well-being
of the people work too often with the target to make life more and more
difficult and to render impossible every free spiritual development.
Instead of utilising the achievements of science and technology for
the benefit and preservation of all form of life, they are abused
carelessly
and irresponsibly to destroy and to kill, and thus turn them into
a curse upon mankind. To change all this, the evolution of a new
technology is not enough,
even if it were the most ecological and ingenious. To change this
present
status one has to go much deeper down, to the root-cause of all this
evil,
and this is mans way of thinking, his state of mind."

Entendendo ou não o funcionamento do gerador, concordando ou
rindo do misticismo de Paul Baumann, o mais interessante é que diversas
pessoas no mundo todo estão testando e construindo réplicas desse
gerador, e se funcionar corretamente nos outros lugares e com a difusão
desse conhecimento pela internet, teremos como aplicar essa tecnologia
em iniciativas como as de Permacultura.
A criação de uma nova tecnologia não é o suficiente para transformar
relações de poder em relações de apoio mútuo, mas determinadas
tecnologias são favoráveis para tal processo, principalmente as
tecnologias limpas, como as bicicletas. Estabelecer lugares comunitários de convivência, assim como distribuir e desespecializar o conhecimento e a técnica, são ações fundamentais para uma mudança de paradigma, da dependência à autonomia, da passividade à ação, da monotonia à criatividade.

Os recursos energéticos
(sejam os combústiveis para os automóveis ou a energia elétrica) são
uma das maiores correntes que amarram os indíviduos às instituições de
poder. Com alternativas que afrouxem essas correntes, talvez tenhamos
terrenos livres para experimentar formas mais sustentáveis de
livre-associações.

Válvulas e Vinis

É impressionante como nas últimas décadas o mercado se tornou
especialista em produzir mais e mais tecnologias novas, que nem sempre
são melhores que as anteriores, mas mesmo assim as pessoas convencem-se
que são. Dois exemplos típicos são no âmbito da música: amplificadores
solid state (transistorizados) e mídia CD. Ambos oferecem alguns
benefícios imediatos: os amplificadores produzidos com transístors ao
invés de válvulas tornaram-se mais baratos e leves, assim como o CD
trouxe a vantagem do tamanho flexível, capaz de se transformar
facilmente. Mas em questão de timbre musical, nada se compara aos
amplificadores valvulados e aos nostálgicos vinis. Segue abaixo a
explicação do porquê, diretamente coletada da Matrix:

Válvulas

O
verdadeiro motivo pelo qual amplificadores valvulados soam melhor do
que seus descendentes solid state é a diferença das características de
seus componentes ativos ou seja, válvulas e transistores. Os
transistores saturam-se com extrema facilidade e é exatamente por isso
que é difícil projetar um amplificador solid state com som limpo, sem
distorções. A válvula satura-se com mais dificuldade e por isso os
amplificadores valvulados apresentam um som tão limpo e cristalino.
Mas, quando se usa distorção (saturação) é que os solid state ficam
ridículos (Em tempo: quando falo de distorção/saturação, refiro-me aos
altos volumes e não à utilização de pedais overdrive, ok?).

Os
transistores, assim como as válvulas, geram freqüências inexistentes no
som original (som da guitarra), além de achatar demasiadamente os picos
da forma de onda. Essas freqüências sempre são harmônicos de cada
freqüência original e é aí que reside a principal diferença sonora. Os
transistores geram harmônicos de todas as ordens e as válvulas geram,
apenas, os harmônicos pares. O resultado é uma distorção clara e firme
nos amplificadores valvulados e uma distorção "suja" com graves e
médios-graves "ocos" nos solid state. Num acorde distorcido nos
valvulados notam-se todas as notas; é possível dedilhar deliciosamente
e emendar um solo arrasador seguido de uma palhetada delirante nos
bordões. Nos solid state só conseguimos chegar mais ou menos perto
disso, com amplificadores extremamente bem projetados, de som limpo, e
utilizando overdrives valvulados, mesmo assim obtemos a típica
distorção de pré. Outros dois fatores que moldam o timbre dos
valvulados é a ressonância da própria válvula que é oca e trabalha com
vácuo e o transformador de saída, que não é linear e, portanto introduz
modificações no timbre (Os transistores não necessitam de
transformadores para acoplarem-se aos alto-falantes, já as válvulas,
devido a sua alta impedância de saída, devem ter essa impedância casada
com a dos alto-falantes). Isso modifica drasticamente as
características originais do sinal da guitarra. Um inconveniente da
distorção dos valvulados é que só conseguimos os melhores timbres com
altos volumes (você tem vizinhos?) pois as válvulas saturam-se quando
estão trabalhando com altos ganhos e isso, nos pentodos ou tetrodos de
saída, significa regime de alta potência. 

Vinis 

No vinil a gravação é analógica, ou seja, as ranhuras produzem na
agulha as vibrações (ondas, senóides) do ar que geraram o som, conforme
foi gravado, com todos os sons harmônicos que são gerados na execução
ao vivo. No CD há uma digitalização dos sons, isto é, cada ponto da
senóide que representa o som é convertido em um grupo de sinais 0 e 1.

Quanto maior a capacidade de gravação dos CD ou quanto menor for o
espaço físico necessário para a gravação digital, que ocupa muito mais
espaço físico para armazenar a mesma quantidade de som (com harmônicos
e tudo) do que um equipamento analógico, melhor será o som do CD. Hoje,
por uma questão do espaço exigido pela tecnologia disponível, há
necessidade de uma redução da quantidade de harmônicos para que caiba
em um CD, portanto, em tese, a qualidade do CD é menor. Ocorre que a
diferença não é quase perceptível pelo ouvido humano médio. Em discos
analógicos de vinil ou alumínio o som é muito
mais "completo" que o do CD, tem todos os harmônicos que foram
produzidos durante a execução ao vivo. O nosso ouvido é analógico e não
digital, se o digital fosse melhor, com certeza nasceríamos com ouvido
digital. A mídia digital tem outros benefícios.

Fausto, de Fernando Pessoa

Beber a vida num trago, e nesse trago

Todas as sensações que a vida dá

Em todas as suas formas […]

É com essa frase que se inicia a
peça de teatro que assisti hoje, baseada no texto "Primeiro Fausto" de
Fernando Pessoa, que por sua vez, é baseado no mito original contado
por Goethe. A imutável condição humana, a incapacidade de compreensão
da realidade ou verdade final, é o tema exposto nesse monólogo. Seria
fácil se a vida pudesse ser compreendida num trago, como Fausto almeja
no início da peça.

Porém, parece impossível compreender a vida,
restando apenas vivê-la. Fausto, não se contenta com isso, e vai
afundando cada vez mais em seus devaneios existenciais. Perambulando de
um lado para o outro em cima de um tabuleiro de xadrez até, em última
instância, encontrar-se consigo mesmo. Segurando um espelho, e olhando
a si próprio, questiona o paradoxo fundamental da existência: será o
momento da morte a única forma de explicar a vida? Ou será que a morte
simplesmente nos levará a outras formas de vida, também sem explicação,
e a falta de sentido seja a verdade universal? 

O lirismo
utilizado na peça (foram utilizados os versos originais de Fernando
Pessoa) pode torná-la um pouco mais complexa para a compreensão
imediata, mas traz uma beleza sem igual ao/à expectador/a. Estamos
acostumados com o imediatismo de frases diretas, ou imagens prontas nas
telas de cinema hollywoodianas, que estão matando nossa percepção
crítica e criativa.

Por fim, os efeitos sonoros e visuais em um
telão deram um ar moderno ao mito, que continua sendo o problema
central da filosofia, e por isso dificilmente deixará de parecer atual,
mesmo com o personagem Fausto vestindo roupas típicas do século XVII e
XIX.

Recomendo fortemente que assistam à peça, está em exibição todas
as quartas de agosto e setembro, às 20h, na Cidadela Cultural da Antarctica. Parte do texto de Pessoa pode ser lido aqui.

La Revancha del Tango

Hoje tive um novo companheiro para as longas jornadas de ônibus, o Gotan Project, uma banda que já havia ouvido falar, e só fui ouvir com atenção agora. Não sei como não conheci isso antes, é sensacional! Imagine um dub que ao invés de reggae, utilize o tango como base nas experimentações? Estão lá todos os ingredientes: toneladas de efeitos delay e reverb, com batidas eletrônicas, mas acrescidas do bandoneón (espécie de acordeão) e piano. O grupo é formado por um argentino, um suíço e um francês. Ouvindo uma das músicas do disco "La Revancha del Tango" (2001) , tive a sensação de que já havia ouvido antes, e de fato estava certo. Foi usada na trilha sonora do excelente documentário Surplus, (uma crítica ardente ao consumismo exacerbado da sociedade moderna). E esse é o ingrediente final à fórmula do Gotan Project, pequenas vinhetas políticas, imersas no oceano instrumental de suas músicas. Seja no momento de crise, do "Que se vayan todos" da Argentina de 2001, ou no quase mantra "Queremos Paz". Há um outro disco deles, chamado "Lunático" (2006), que já está na minha lista de desejos do Nicotine (cliente Soulseek, para Linux).

Inclusão Digital e Poesia (não necessariamente nesta ordem)

homem de bonéDesde que comecei a dar aulas de informática básica no bairro Paranaguamirim, conheci várias pessoas interessantes. O projeto está ligado à rede popular de inclusão digital, que tem como objetivo oferecer cursos gratuitos de informática em diversos bairros de Joinville. Sendo assim, acabo conhecendo pessoas simples, cada uma com suas histórias e conhecimentos pra transmitir. Uma das pessoas que mais me chamou a atenção, foi o Seu Carlos. Com 60 anos de idade, já tendo feito de quase tudo na vida, e atualmente fazendo alguns trabalhos como pedreiro e artesão, Carlos resolveu cair fundo na informática. Depois de ter concluído o curso, continuou comparecendo às aulas, me ajudando a ensinar coisas que ele já havia aprendido. Aliás, já fazem mais de 2 meses que ele terminou o curso, e ainda continua indo, me ajudando a desmanchar a figura de professor, que tento não representar. As aulas de informática acabam servindo como laboratório de experiências, onde é possível perceber na prática que todo autoritarismo tem o único objetivo de afastar as pessoas, matar a inteligência e conduzir à ignorância. Tive alguns casos que não soube o que fazer, por exemplo com uma menina, a Daniele, que só faltou destruir os computadores. Em vez de utilizar a minha autoridade como professor, tentei simplesmente falar que ela não precisava assistir à aula se não quisesse, e que o pior castigo que ela poderia receber é de ganhar o diploma do curso sem ter aprendido a utilizar o computador (o que a falta de atenção dela estava conduzindo). Aí ela se tocou um pouco, viu que no fim das contas não estava ali por obrigação, e que continuando a correr pelo laboratório não ia ajudá-la nos aprendizados.

Há uns 8 anos atrás, vasculhando nos livros do meu pai, encontrei um que me chamou a atenção, se chamava: "Liberdade sem medo" , de A. S. Neil. O livro trata de uma escola chamada Summerhill, onde os estudantes só estudam se assim desejarem, nenhuma obrigação, ou submissão. Alguns chegavam a ficar anos apenas brincando, e em algum momento, por alguma razão, começavam a ter interesse sobre química, física, biologia, etc.. Fiquei encantado com o modelo educacional, baseado não nas obrigações, mas na liberdade. Até hoje, quando penso no desejo que tenho de ser professor, é com esse modelo que sonho.

Só pra terminar, voltando ao Seu Carlos. No intervalo das aulas, ele levou um caderno velho, e passou alguns de seus poemas para o computador. Agora, você e o mundo inteiro terá o privilégio de lê-los, publicados na rede mundial de computadores. Visite aqui a página do Carlos. Pretendo com o tempo publicar outros textos de pessoas que fazem o curso =)

Macacos-prego se rebelam!

notícia que recebi do seu Moésio Rebouças (A.N.A): 

O título original da matéria (ler abaixo) é esse: "Macacos-prego causam
prejuízo e viram caso de polícia em Pernambuco". Mas mudei, dei mais
sentido à ação dos macacos, pois dá para perceber que os animais estão
é se rebelando contra essa praga chamada "ser humano", vida civilizada,
prisões, domesticação. Casos parecidos como esses já aconteceram na
África, inclusive envolvendo outros animais, principalmente elefantes.

Putz,
quando acabei de ler essa nota perdi o fôlego, meu corpo parecia uma
centelha, queimava. Queria explodir de alegria! Sei lá, nos tempos que
correm de tantas imbecilidades humanas, essa notícia lavou a minha
alma. Quanta dignidade desses macacos!

Que bom, mas que bom
saber que os animais ainda estão com instintos selvagens afiados, que
não se renderam, não se curvaram, que "tão botando pra quebrar", ao
contrário do "ser humano", conformado, manso, obediente, bom cidadão,
arrogante, prepotente… Argh!

A destruição é criativa!

Viva
os animais! Viva a Natureza! Viva a rebelião! Ninguém, nenhum maldito
deterá a Revolução da Natureza, ela está vindo, conseguem perceber,
sentir?

Livres e Selvagens!

Macacos-prego causam prejuízo e viram caso de polícia em Pernambuco

Dois
macacos-prego viraram caso de polícia, em Exu (699 km de Recife), após
invadir e causar prejuízos em pelo menos cinco casas da cidade nos
últimos dez dias. Em um dos imóveis, um dos animais promoveu um
incêndio, segundo moradores.

Na quarta-feira (08), um dos
macacos foi detido por moradores que se prontificaram a levá-lo ao
escritório do Ibama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis em Crato (533 km de Fortaleza). Até esta
segunda-feira (13), ele não havia chegado ao órgão.

No sábado
(11), moradores acionaram a polícia para retirar outro macaco de uma
casa. O delegado de Exu, Romildo dos Santos, disse que levou o animal
ao Ibama, onde está em quarentena. Ele afirmou que não há como saber
qual animal foi responsável por cada invasão.

"Ficamos sabendo que ele entrou na casa de um pastor e fez a maior
bagunça. Quebrou o teclado do computador, espalhou comida pela casa e
até rasgou as páginas de uma bíblia", disse Santos.

O chefe do
Ibama em Crato, Eraldo Oliveira, disse que o macaco entregue ao órgão é
do sexo feminino e tem cerca de três anos. "Estamos com 11 macacos.
Todos eles parecem ter sido criados em cativeiro, inclusive esse último
que recebemos. Eles não podem ser soltos na natureza pois não
sobreviveriam", disse.

O professor Francisco Moreira Lopes
disse que pensou ter sido vítima de um trote quando foi informado, na
quarta-feira, que um macaco havia colocado fogo em sua casa. "Perdi
roupas, colchão, tapete, aparelho de DVD e ainda vou ter que pintar a
casa toda", disse Lopes, que estima um prejuízo de R$ 3.000.

O
delegado Santos disse que está investigando quem eram os donos dos
macacos. "Eles (macacos) não podem ser responsabilizados pelo que
cometeram, mas seus donos podem."

Uberaba – Nesta terça-feira
(14), a Prefeitura de Uberaba (494 km de Belo Horizonte) constituiu uma
comissão de biólogos e veterinários para definir o futuro do macaco
Chico, que vive em uma mata da cidade há cinco anos.

Chico é
acusado de promover invasões na vizinhança e em prédio público, furtar
e destruir objetos e documentos e atacar visitantes. Somente em julho,
18 ocorrências de mordidas foram registradas por freqüentadores da Mata
do Ipê.

De volta aos ruídos

Depois de um bom tempo parado, sem tocar com nenhuma banda, já até
havia me esquecido do poder que essa coisinha chamada música tem, a
energia que ela dá à vida. Tivemos o segundo ensaio hoje com uma banda
nova ( eu – guitarra, Bruno – baixo e Gustavo – bateria). Já gravamos a
primeira música que estamos ensaiando, com a câmera digital do Gustavo, mas tem
uma parte que está quase impossível de acertarmos. (o som gravado pode
ser baixado aqui) Quem sabe daqui a alguns meses não estamos tocando em algum canto de Joinville?

E
além disso, no domingo (12/08) iremos tocar com o "eu contra o mundo"
no "Salada show",  com as bandas Old Machine, Sylverdale e Posex, às
16h no Bar Funil. Preparamos mais umas demos pra levar ao show
(provavelmente foram as últimas feitas).  Sobre o futuro do "ecom", não
sei como vai ser. Temos uma música nova "redondinha", seria
interessante ensaiar mais umas 3 para lançar mais algum material. Mas
com o Leo morando em Floripa, a coisa fica bem complicada. Por
enquanto, vamos deixar as coisas acontecerem. "Just floating by the stream".

Saber – Vontade – Querer

Max StirnerUm mergulho profundo no meu Eu/Individual acarreta na compreensão e
harmonização da realidade Coletiva? Bom, parece que é isso que Max
Stirner, tenta mostrar em seu livro "O falso princípio da educação" ,
que terminei de ler hoje. Com a proposta de refutar os dois modelos
educacionais vigentes após a Revolução Francesa (Humanismo e Realismo),
Stirner sugere que o simples saber, desprovido de vida, não deve ser o
objetivo da educação. Condena o Humanismo, corrente educacional que
preocupava-se com a erudição (antiguidade clássica), por considerá-lo
como" forma desprovida de conteúdo", assim como o Realismo, por formar
cidadãos utilizáveis e submissos. O livro, escrito há 130 anos, é
extremamente atual, principalmente quando a análise é feita em relação
ao Realismo. Com a crescente industrialização da sociedade, o Humanismo
praticamente deixou de existir, dando lugar à formação técnica, voltada
para o desempenho de atividades industriais. Hoje, todo o ensino
(primário, ensino médio, universitário) é completamente voltado às
necessidades do mercado, influência marcante do Realismo, que adota a
lógica de formar cidadãos práticos. As instituições de ensino formam
parafusos, dispostos a encaixarem-se precisamente em seus cargos
tediosos. Parafusos que desejam viver e morrer parafusos, ora pois, não
é raro presenciar pessoas perguntando "pra que eu preciso aprender
isso? isso vai me dar dinheiro?". Esse é o reflexo da educação voltada
aos interesses práticos e pessoais. Stirner deixa claro que os
interesses pessoais de nada tem a ver com a relização do Eu Único, da
espontaneidade. Em diversos momentos, sua abordagem metafísica
assemelha-se aos ditos budistas do auto-conhecimento, ou da frase
célebre de Sócrates : "Conhece-te a ti mesmo!". Para ele, a escola
libertária não deve ter outro objetivo senão desformar (e não formar)
indíviduos, torná-los consientes de sua individualidade, como condição
para a liberdade e igualdade. Liberdade e igualdade que inicia-se
consigo mesmo, para emanar no coletivo. Para isso é necessário que o
Saber seja morto, ressuscitando como Vontade, e finalmente sublimando em Querer. Eis
aí presente a fórmula dialética, mas invertida de cima pra baixo, da
esquera pra direita e vice-versa.

Não é necessário dizer que
Stirner foi altamente odiado em seu tempo, e permanece incompreendido
até hoje. Uns dizem que foi o pai do anarco-capitalismo, outros que foi
a principal influência de Nietzsche, e há até quem o considere como uma
das influências de Mussolini. Erros de interpretação a parte, o fato é
que ele enxergou a miséria humana começando em sua (falta de) relação consigo
mesma, a psique. Ao contrário de Marx e outros, que viram todos os
problemas na economia, política, religião, ou seja, externamente. Pode
parecer "weird" , mas pra mim cada vez sinto mais que o Interno é reflexo do
Externo, o Micro do Macro, o Pessoal do Político, o Individual do
Coletivo e assim por diante. Os físicos que o digam, num universo onde
a Ordem parece ser o Caos.