Palavras de Jiddu Krishnamurti

Embora
haja atualmente tanto saber em tão variados campos, isso não faz
cessar a brutalidade do homem para com o homem, mesmo entre membros
de um mesmo grupo. É possível que o saber esteja nos tornando cego
para o que bem pode representar a solução real de toda essa
confusão e miséria.

——–

Estamos acostumados a ser dirigidos pela autoridade e pelo
guia. O desejo de ser guiado surge do desejo de segurança, de
proteção, e bem assim do desejo de sucesso, bom êxito.

Na nossa ânsia de segurança, não só como indivíduos, mas
também como grupos, nações e raças, não construímos um mundo
onde a guerra, por dentro e por fora de uma dada sociedade, se tornou
a principal causa de apreensão?

A paz é um estado de espírito; é o estado livre de todo e
qualquer desejo de segurança. A mente-coração, se busca a
segurança, terá sempre a persegui-la a sombra do medo. Nosso desejo
não é apenas de segurança material, porém, muito mais, de
segurança interior, psicológica. E é esse desejo de segurança,
interiormente, por meio da virtude, da crença, ou por meio de uma
nação, que cria grupos e idéias cheias de limitações e portanto
antagônicas.

Esse desejo de segurança, faz surgir a aceitação de
dirigentes, a autoridade dos líderes, Salvadores, Mestre. Estamos
procurando compreender o desejo de ser dirigido, não é verdade? que
impulso é esse? Não é produto do medo?

————

A família como meio de mútua segurança interior é um fator
de conflito e confusão.

O amor nunca é segurança; o amor é um estado em que não
existe desejo de estar em segurança; é um estado de
vulnerabilidade; é o único estado em que a exclusão, a inimizade e
o ódio são impossíveis. 

Nesse estado uma família pode tornar-se existente, mas nunca
será exclusiva, egocêntrica.

———-

 Meditação é libertar a mente de toda desonestidade. O pensamento gera
desonestidade. O pensamento, no seu esforço para ser honesto, é
comparativo e, portanto, desonesto. (…) Meditação é o movimento
dessa honestidade no silêncio.

Mais sobre dualismo e cristianismo

Publiquei o texto do post anterior no site do CMI-Brasil, nesse link. Houve uma pequena discussão interessante, que vou reproduzir aqui:

 Comentário 1

Dualidade e dualismo
Janos Biro 27/02/2009 14:57

janosbirozero@gmail.com
antizero.rg3.net

Olá

Acho
que há um ano atrás eu concordaria com este texto. Mas depois de
estudar sobre religião eu acho que ele tem algumas brechas.

A
começar a dualidade platônica não é entre o bem e o mal, e na verdade
Platão não era exatamente um dualista, e afinal ele é pré-cristão,
então o erro não seria do cristianismo. Quem instaura a dualidade como
a conhecemos hoje é Descartes, mas o cristianismo original não é
cartesiano. Quando criticamos o dualismo estamos criticando a idéia de
que há duas realidades distintas no universo. Se é tudo é uma coisa só,
tudo pode ser explicado por um só método. De qualquer forma a ciência
ganha, e embora a física quântica use um pouco de dualidade, o resto da
ciência quantitativa se apóia no oposto.

Negar o dualismo não
pode ser igual a negar toda e qualquer bifurcação. Algumas coisas
simplesmente têm dois lados, como uma moeda. Claro, há um dualismo no
cristianismo, mas ele não leva às conclusões do autor. O dualismo é que
Deus é absolutamente diferente do mundo físico, e logo não pode
alcançado pelo homem com ciência, por exemplo, como o deísmo afirma.

Não acho que este dualismo deva ser rejeitado a priori, o que não justifica o dualismo que o autor critica, é claro.

É
o cristianismo que está transvestido de modernidade, ou a modernidade
que está transvestida de cristianismo? Há alguns anos atrás houve um
surto de cristianismo no Brasil, de neopentecostalismo principalmente,
apoiado por expansão do poder midiático das igrejas. Mas é algo muito
diferente do que era o cristianismo original, talvez até oposto,
segundo muitos teólogos e sociólogos da religião.

Eu concordo
que essas igrejas se tornaram comércios. E mesmo os ateus e agnósticos
se tornaram sim muito parecidos com estes religiosos, porque no fundo
todos estão atrás de dinheiro e poder.

Mas, dizer que não
existe verdade absoluta acaba servindo hoje em dia para afirmar que não
há verdade de forma alguma, estabelecendo uma relatividade absoluta.
Isso também não funciona.

No trecho "O cristianismo é a
ideologia do sofrimento, da martirização, da negação da vida, do
autoritarismo, do julgamento e da remissão dos pecados", eu observaria
algumas coisas. Cristianismo não é procurar o sofrimento, mas entender
que todos vamos sofrer, e saber aprender com isso. Sacrifício é uma
parte importante da vida, que nossa sociedade, exatamente pode ser uma
sociedade do prazer, do descompromisso e da desconfiança (por ser
também do sadismo e da exploração), não aceita. Agora negação da vida?
Só é negação da vida se você reduz a vida ao caráter meramente
biológico dela, ignorando seu significado para além da ciência.
Autoritarismo? Também acho que não, embora a autoridade seja sim um
valor para o cristianismo, não é autoridade forçada. Julgamento e
remissão dos pecados também tem seu sentido para o cristianismo, mas
isso não justifica qualquer julgamento, apenas o julgamento divino.

Um
cristão não pode dividir as pessoas em pecadores e não pecadores, por
conta própria. Só Deus pode fazer isso, e a princípio somos todos
pecadores, e nem por isso devemos ser impecáveis, apenas evitar o
pecado. A Bíblia não diz que deve-se cortar os laços com quem peca, se
este estiver disposto a reconhecer seu erro e mudar. Auto-crítica não é
isso também?

Um amigo antropólogo que estuda indígenas
brasileiros me falou uma vez de uma sociedade indígena onde tudo,
absolutamente tudo, era dividido em dois. Me esqueci o nome das duas
palavras, mas funcionava assim, todas as pessoas e coisas são do tipo A
ou do tipo B, elas herdam isso de nascença, pela herança paterna ou
materna, não me lembro, e a pessoa de um tipo não pode casar com uma
pessoa do mesmo tipo, e assim por diante. Eles tem um dualismo, mas não
entre bem e mal.

Mas a teologia cristã na verdade nega o
dualismo bem/mal, diretamente. Segundo alguns teólogos, o bem é a única
coisa que existe, e o mal representa a falta de bem, como frio é falta
de calor. A falta absoluta de bem anula a si mesma. Isso é só um
exemplo.

Grande parte dos falsos dualismos que são defendidos
hoje não tem origem cristã. Então eu acho que seu texto poderia ficar
melhor, sem essas associações precipitadas. Quer criticar o dualismo?
Pode criticar. Quer criticar o cristianismo? Pode criticar. Quer
criticar as duas coisas ao mesmo tempo? Isso é bem mais complicado.

Abraços

Janos

Comentário 2

Exato
humilde 27/02/2009 20:32

Creio que Juno matou a parada!Jesus cristo pregou a vida em abundancia,
e seu ponto de partida e’ de um pai amoroso que se sacrifica pelo seu
filho.O verdadeiro cristâo da’ a vida pelas geracoes
futuras!Misericordia e piedade para aqueles que se arrependem de seus
erros!

Comentário 3

Cristianismo Libertário
Kaiser 77 28/02/2009 19:34

http://cesarcrash.blogspot.com

Talvez o meu commentário não acrescente nada. Mas também me sinto na
obrigação de dizer que sofrimento, martirização,negação da vida e
autoritarismo, pode ter muito a ver com os ensinamentos de religiões,
igrejas ou pregadores, mas nada tem a ver com o cristianismo puro e
autêntico. Sobre o julgamento, manter distância dos outros, isso é
justamente o oposto dos ensinamentos de Cristo, que diz que devemos
amar a todos, e todos inclui também nossos inimigos. O verdadeiro
cristão não é aquele que não peca, mas aquele que reconhece os seus
pecados.
E aliás, sobre ateus e agnósticos, acredito que tanto
estes como também punks, índios, prostitutas, moradores de rua, têm em
geral valores cristãos que hoje faltam, talvez, na maior parte dos que
hoje se dizem cristãos.

Comentário 4 (minha resposta)

Dualismo e cristianismo de uma única vez
Oriel Frigo 28/02/2009 19:51

Primeiramente, desculpe pelas generalizações. Esse é um tema que dá
muito pano pra manga, e abordá-lo com um texto tão curto acaba por
prejudicar algumas das idéias que pretendi expor.

Quero
deixar claro que quando falo em cristianismo, estou me referindo à
ideologia disseminada pelo império romano, o cristianismo que
conhecemos hoje. Estou ciente de que o cristianismo primitivo tinha um
caráter diferenciado, tendendo para o libertário, com influências do
gnosticismo e do misticismo oriental. Concordo que o dualismo pregado
no cristianismo não tem origem cristã. Pensadores cristãos como Santo
Agostinho organizaram a "ideologia cristã" com uma base forte em
Platão. Mas convenhamos, o dualismo de Platão é por demais parecido com
o da igreja católica, enquanto o primeiro criou a distinção entre "o
mundo das idéias" e o "o mundo dos sentidos", o segundo se utilizou
dessa mesma base, trocando apenas o "mundo das idéias" pelo "mundo dos
espíritos". Tanto em Platão quando no cristianismo, existe a crença
numa espécie de pureza do primeiro mundo, divino, intocável pelos
humanos, enquanto o "mundo dos sentidos" é considerado sujo,
pecaminoso, etc.

Tudo bem, os dualismos constituem as bases
para diversas religiões e filosofias, mesmo nos budistas ou em
Schopenhauer, iremos encontrar essa distinção entre fenômeno e coisa em
si, sendo sempre o mundo dos fenômenos desvalorizado e o da coisa em si
aquilo que é intocável e imutável. Respeito essas crenças, mas acredito
que o mundo dos opostos muitas vezes funcione como uma espécie de
atração perigosa, assim como o próprio racionalismo desenfreado.
Enquanto acreditamos em um dos lados, estamos sujeitos a atitudes
dogmáticas e totalitárias, que frequentemente tem nos levado a
abstrações rígidas e desumanas como Estado, Igreja, Poder. Não acredito
que devamos sucumbir a um relativismo absoluto, mas acho que precisamos
de boas doses de relativismo e de visão transdisciplinar para superar
alguns dos maiores erros de nossa civilização. A coisa é tão profunda,
que mesmo dentro do movimento anarquista, observamos várias pessoas
pregando uma dicotomia. Por um lado, existiria o "anarquismo social" ,
do outro o "anarquismo individual ou de estilo de vida". Alguns
defendem que o primeiro é o legítimo anarquismo, o verdadeiro caminho a
ser atingido para alcançar a revolução social, outros acreditam o
inverso. É tão difícil assim enxergar que dicotomias como indíviduo X
coletivo nos levam a uma polarização onde os dois extremos acabam por
ser incompletos? O ser humano não é nem um ser apenas individual, nem
apenas um produto social, é ambos. Vários campos da ciência e filosofia
tem aberto essa discussão, estudando conceitos aparentemente opostos
como "parte X todo" ou "onda X partícula" ou ainda "corpo X mente". A
conclusão está sempre tendendo para o seguinte:

a) A parte não
pode ser eficientemente compreendida unicamente e isoladamente, e nem o
todo. No fim das contas, segundo biólogos como Humberto Maturana em
seus estudos de organismos vivos, o todo é mais do que a simples soma
das partes e cada parte contém uma espécie de princípio do todo. Isso
curiosamente pode se aplicar a relações parte-todo tão distintas como
indíviduo-sociedade, organismo-corpo, átomo-molécula, molécula-célula.

b)
Diversos físicos acreditaram que o nível mais fundamental da matéria se
comporta como uma partícula, com propriedades físicas como massa e
carga elétrica. Com o estudo da luz e a descoberta de que a velocidade
e posição das partículas se comportam de forma não determinística, como
uma onda de probabilidades, os cientistas passaram a acreditar que
elétrons, mésons seriam ondas. Hoje se acredita que ambos sejam
corretos, dependendo do referencial do observador.

c) Doenças
como câncer não podem ser consideradas nem como sendo uma patalogia
puramente corporal e nem como puramente mental. A medicina oriental há
milênios desconhece a separação corpo-mente, e trabalha a cura a partir
de uma perspectiva psicossomática.

Negação da vida e ideologia do sofrimento

Quando
falo em negação da vida, isso se refere ao termo que Nietzsche
trabalhou, o fato do cristianismo romano ter travado uma guerra contra
os instintos humanos, contra o sexo, os prazeres, a alegria de viver, a
espontaneidade. O prazer até é permitido em algum ponto, mas sob
severas limitações.
No fundo isso é uma consequência daquele velho
dualismo de Platão, que enxerga o mundo dos sentidos (por acaso o mundo
em que vivemos), como algo pecaminoso.
Para entender o que quero
dizer com ideologia do sofrimento, basta pensar no símbolo máximo do
cristianismo. Um homem completamente ensaguentado, flagelado, pendurado
numa cruz. Esse símbolo representa um ideal a ser atingido, a
martirização.Trata-se de uma imagem que faz seus seguidores sentirem
culpa, sentirem-se reponsabilizados pelo assassinato de seu santo. Não
falo isso como um espectador que conhece vagamente a ideologia cristã.
Fui educado por uma família rigidamente católica, inclusive por
catequistas. Encarei dentro da família uma censura contra a diversão, a
alegria e o sexo. Os únicos valores dignos são o trabalho, o
sofrimento, o doar-se pelo próximo. E o mais fantástico, é que o
essencial na defesa desses conceitos é a imagem. Mesmo os mais
ferrenhos luteranos, vangloriando a imagem do trabalho, no fundo é
sempre possível perceber que eles não amam tanto assim trabalhar. Eles
amam a imagem do trabalho. Assim como tantas pessoas não amam tanto
assim doar-se ao próximo, mas estão fascinadas pela imagem que passam
aos outros e principalmente a imagem que passam para Deus, que estará
julgando no purgatório *. Uma vida baseada na repressão e em
castrações, segundo Wilhelm Reich, causa diversas "sequelas" no âmbito
social/político. Não é por acaso que na ficção de George Orwell, 1984,
o sexo e os instintos são mantidos em controle, para que a sociedade
possa dedicar todo o esforço ao estado e à obediência cega.

Diversos
pensadores dialético-materialistas como Bakunin, defenderam que o que
impossibilita os cristãos de lutarem por um "mundo terreno" mais justo,
é a crença de que as injustiças sociais são naturais, frutos do pecado original de Adão e Eva, e simplesmente não podem ser
combatidas. Para muitos cristãos, a revolução irá acontecer, mas no
momento da morte, quando será possível encontrar o paraíso utópico, a
vida eterna prometida por Cristo. Por isso que religiões mais
fundamentalistas como os testemunhas de jeová ou os adventistas, adotam
um compromisso de afastamento ou de serem "neutros" nos assuntos
políticos "mundanos".

É um desafio criticar tanto o
cristianismo como o dualismo de uma única vez, mas ao contrário do que
foi colocado, acho que os dois estão muito ligados, a não ser que se
esteja falando de interpretações alternativas do ensinamento de Cristo,
como levadas a cabo pelos gnósticos ** ou por Tolstoi. O dualismo
rígido vem de Sócrates, passando por Platão e Aristóteles mas o
cristianismo comprou a idéia. E hoje, diversos grupos que não possuem
mais nenhuma ligação com o cristianismo continuam comprando essa idéia.
O que enxergamos como resultado são as novas cruzadas da inquisição
neoliberal, marxista ou tecnocrática, onde indíviduos são seduzidos
pelo dualismo bem-mal, e sempre acreditam estar percorrendo o caminho
do bem, enquanto todas as outras crenças e atitudes são o caminho do
mal. Isso é um tremendo obstáculo para superarmos nossas diferenças e
pudermos finalmente caminhar na estrada da pluralidade.

*
Poderia-se ainda discutir que apenas o Deus do antigo testamento julga,
e o Deus do novo testamento não parece mais julgar, em vez de um
legislador e destruidor de cidades vingativo, Cristo ensinou que Ele
agora é apenas puro amor. Mas o foco aqui não são as contradições da
bíblia, que aparentemente foram ignoradas pelos cristãos romanos.

**
Existe ainda uma interpretação que acredita que Jesus tenha tido vida
sexual com Maria Madalena e que praticava yoga tantrico para atingir a
"iluminação através do orgasmo cósmico".

Comentário 5

 

Falando sobre falsas dicotomias…
Janos Biro 28/02/2009 20:41

janosbirozero@gmail.com
largue.rg3.net

Eu concordo parcialmente com sua resposta, no sentido de que o que é
chamado de cristianismo hoje em dia, ma maior parte das vezes chega a
ser anti-cristão.

Porém, a repressão é apenas um dos lados com
que o totalitarismo funciona, e foi bom você lembrar de Orwell, pois
Huxley escreveu Admirável mundo novo como uma resposta ao 1984, e nele
há uma distopia tão ou mais totalitária que a de Orwell, onde no
entanto não há repressão, pelo contrário, há liberação sexual, de
prazeres e vícios e o mote é: "Não negue-se nada". Acho que a sociedade
hoje deixou de ser tão repressiva quanto ela era, e passou a se parecer
mais com a distopia de Huxley, pelo motivo que ele mesmo alega: é mais
eficiente. A capitalismo exige isso.

Eu sou luterano e eu não
vejo o trabalho como algo valoroso por si só. Na nossa sociedade, o
trabalho é alienante. Mas antes de conhecer essa perspectiva, eu também
julgava conhecer muito bem o cristianismo, e também fui criado num lar
católico. Frequentar a igreja não foi suficiente para que eu conhecesse
a fé cristã.

Mas de qualquer forma parabéns pelo artigo e pela reflexão.

Abraço

 

Doença ocidental e Cristianismo

Temos visto uma diminuição pelo interesse no cristianismo nas últimas gerações, mas se fizermos
uma análise mais profunda, vemos que o cristianismo está lá com todos os seus símbolos mais básicos, apenas transvestidos com outras máscaras.
Parece estranho ouvir que vivemos em uma sociedade cristã, pois todos sabemos que a sociedade moderna ocidental tem seus valores máximos fetichizados sob a forma do consumo, pois nossas igrejas são os shopping centers, nossas orações são os jingles repetidos pela
televisão tão exaustivamente como mantras hindus, ou como ave-marias em um terço católico.
Mesmo entre ateus e agnósticos temos visto o cristianismo impregnado em seus discursos, principalmente sob a forma de dualidades do tipo bem-mal ou sob a crença em alguma verdade absoluta, que é alcançada por algum indíviduo privilegiado.

O cristianismo é a ideologia do sofrimento, da martirização, da negação da vida, do autoritarismo, do julgamento e da remissão dos pecados.
Quantos de nós, assim como cristãos, não estamos sempre dividindo nossos companheiros entre pecadores e não pecadores?
Se algum deles peca, imediatamente cortamos nossos laços interpessoais, e o colocamos na lista de pecadores, aqueles que devemos manter distância, para que possamos preservar nossa "pureza espiritual".


Modestamente, penso que o dualismo reducionista, a divisão binária, só funciona bem para a lógica booleana e a subsequente construção de computadores através de sinais digitais.. E não para a organização social humana!
Não estamos tão presos a ideologias dogmáticas quanto os cristãos medievais, reduzindo e classificando friamente, ao invés de pensar e sentir com o coração?

Porquê não dar um espaço para a espontaneidade e a auto-crítica?

 

Nesses tempos de eleições…

… exalta-se a suposta democracia, através de belas propagandas comemorando o fantástico direito de votar. A utilização de uma atriz grávida nas propagandas que exaltam as eleições certamente não é casual, a imagem de uma barriga avolumada por um feto em desenvolvimento espalha os memes de que um novo Brasil, ainda em gestação, pode ser construído através do voto. É lógico que isso tudo vem acompanhado de roupas brancas, sorrisos e discursos emocionantes e uma bela música que poderia ter saído de uma das novelas da Rede Globo.

Democracia é um desses conceitos abstratos que é utilizado com diferentes intenções e significados, apesar da definição formal ser bem clara: a possibilidade de participação e decisão da população na gestão dos bens e serviços públicos.

Todas as propostas dos candidatos que concorrem aos cargos de gestão pública são iguais: investimentos em educação, saúde, segurança, cultura, lazer, transporte público. Porém, depois de eleitos, abafam, com o uso de força policial, qualquer reivindicação popular de melhoria para alguma dessas áreas. Não é nem preciso citar a podridão que existe por trás de tudo que os políticos realizam depois de eleitos, pois até mesmo a Globo já tem realizado bem essa tarefa. O que a grande mídia esquece de dizer, é que o esquema já começa podre desde as eleições, e que não é mais possível dizer se o mais podre são as pessoas ou o modelo. De qualquer forma, o modelo é formado e regido por pessoas, e como diriam os estudiosos da Teoria Geral de Sistemas / Complexidade, em um sistema dinâmico não há nenhuma parte desconexa, todos os componentes estão em intensa interação, modificando e sendo modificados de acordo com a função do sistema. No caso do sistema que representa nosso modelo nacional e planetário de gestão de recursos (humanos ou não), qual a função dele? Perpetuar sua própria existência?

Há 2 anos o Centro de Mídia Independente de Joinville redigiu esse texto e distribuiu pelas ruas da cidade no periódo das eleições, afim de demonstrar que o modelo representativo de gestão não é tão democrático quanto parece nas propagandas. Parafraseando o texto citado, votar nulo não significa fazer algo para mudar o problema, significa apenas reconhecer que o problema existe.  

Por não acreditar que o modelo vigente seja democrático, tenho anulado meu voto nas últimas eleições, porém no caso da eleição atual em Joinville, considero a hipótese de votar no segundo turno, especialmente para evitar a vitória de Darci, que como presidente da câmara de vereadores demonstrou toda sua falta de bom senso.

O modelo de transformação proposto em Bolo'BoloÉ preciso ter os pés no chão e perceber que nem tudo é do jeito que idealizamos, mas também é preciso sonhar e agir.


Para @s romântic@s e apaixonad@s que querem sonhar e receber sugestões mais profundas de como iniciar a resolução do problema, leiam  Bolo’Bolo , um manifesto anônimo muito inspirador!

Resposta, de Frederic Brown (1954)

    Dwar Ev soldou solenemente a junção final com ouro. A objetiva de uma
dúzia de câmeras de televisão se concentrava nele, transmitindo a todo
o universo doze enquadramentos diferentes do que estava fazendo.
Endireitou o corpo e acenou com a cabeça para Dwar Reyn, indo depois
ocupar a posição prevista, ao lado da chave que completaria o contato
quando fosse ligada. E que acionaria, simultaneamente, todos os
gigantescos computadores da totalidade dos planetas habitados do
universo inteiro – noventa e seis bilhões de planetas – ao
supercircuito que, por sua vez, ligaria todos eles a uma
supercalculadora, máquina cibernética capaz de combinar o conhecimento
integral de todas as galáxias.
    Dwar Reyn dirigiu algumas palavras aos trilhões de espectadores. Depois de um momento de silêncio, deu a ordem:
– Agora, Dwar Ev.
Dwar Ev ligou a chave. Ouviu-se um zumbido fortíssimo, o surto de
energia proveniente de noventa e seis bilhões de planetas. As luzes se
acenderam e apagaram por todo o painel de quilômetros de extensão.
Dwar Ev recuou um passo e respirou fundo.
– A honra de formular a primeira pergunta é sua, Dwar Reyn.
– Obrigado – disse Dwar Reyn. – Será uma pergunta que nenhuma máquina cibernética foi capaz de responder até hoje.
Virou-se para o computador.
– Deus existe?
A voz tonitruante respondeu sem hesitação, sem se ouvir o estalo de um único relé.

– Sim, agora Deus existe.

O rosto de Dwar Ev ficou tomado de súbito pavor. Saltou para desligar a chave de novo.
Um raio fulminante, caído de um céu sem nuvens, o acertou em cheio e deixou a chave ligada para sempre.

O mundo é um palco, mas a peça tem um elenco ruim

Li essa frase há alguns anos atrás, que mexeu profundamente comigo. Ao contrário do que pode se pensar, ela não foi dita por Baudrillard ou Debord ou Foucault no século XX, mas sim por Oscar Wilde no século XIX. O iconoclasta francês viveu num tempo onde os tribunais franceses condenavam à prisão quem fosse homossexual, e Wilde foi 2 anos encarcerado pelo motivo de simplesmente seguir seus desejos. Em "O retrato de Dorian Gray", através do personagem Lorde Henry, Wilde mostra suas opiniões ácidas a respeito das leis, da moral e da domesticação do espírito humano. Seus pensamentos mais profundos foram expressos através dos aforismos.

Eis alguns dos meus preferidos:

 

"Todo mundo sabe compadecer o sofrimento de um amigo, mas é preciso ter uma alma realmente bonita para se apreciar o sucesso de um amigo"

 

"O mistério do amor é maior que o mistério da morte"

 

"Todos nós estamos na lama, mas alguns sabem ver as estrelas"

 

"Para ocultar a sua própria ignorância as pessoas inventam regras e dão conselhos, assim como sorriem para esconder as lágrimas"

 

"Podemos chegar à perfeição através da arte e somente através dela; só a arte pode nos proporcionar um refúgio contra os sórdidos perigos da vida"

 

"Um primeiro contato que começa com um elogio transformar-se-á
certamente em real amizade. Assim, ela nasce da forma mais bonita."

 

"Para qualquer um que conheça a história, a desobediência é a virtude original do homem. É com a desobediência que se realizou o progresso. Com a desobediência e a revolta."

 

"Viver é a coisa mais rara do mundo. Muitas pessoas existem, só isso"

 

A arte e o cotidiano

" O dadaísmo quis suprimir a arte sem realizá-la; o surreliasmo quis realizar a arte sem suprimi-la. A eposição crítica elaborada desde então pelos situacionistas mostrou que a supressão e a realização da arte são os aspectos inseparáveis de uma mesma superação da arte" 

Este trecho genial escrito por Guy Debord em sua magnum opus "A Sociedade do espetáculo" já me tirou muitas noites de sono. Os situacionistas tinham uma crítica extremamente bem elaborada já nos anos 60, reconhecendo que toda a arte ocidental é um reflexo desta cultura que caracteriza-se como uma esfera separada do cotidiano. A arte como ficou conhecida ao longo dos séculos, presente em lugares construídos especificamente para isso, contém o anceio de liberdade, o anceio de expressão direta, porém, não direcionados ao cotidiano.

Cada movimento artístico surgido a partir do barroco, caracterizou-se por ser a negação do anterior, até se chegar ao dadaísmo, que propôs algo radical: a anti-arte, o fim da arte. A arte, a embriaguez de espírito, como chamava Nietzsche, no século XX passou a ser defendida como característica inalienável de um aspecto inseparável da vida humana, mas dentro das situações de vivência cotidiana, e não nos museus para ser apreciada pela burguesia. 

Essa é uma reivindicação extraordinária, mas como tirá-la dos livros e aplicá-la no cotidiano?

Isso só será possível se ocorresse antes a almejada revolução social, planejada e formulada por tantos marxistas e anarquistas?

Jung e o universo dos arquétipos

Carl G Jung foi um dos grandes pensadores e estudiosos da psique humana no século XX. Iniciou seus estudos nos círculos da psicanálise, a teoria que criou a a grande revolução da filosofia do início do século XX: a idéia de que a psique humana divide-se em consciente e inconsciente, mais especificamente, em ego, super-ego e id. E que os processos inconscientes, de caráter surrealista e não-lógico, acessíveis através dos sonhos, são a matriz do consciente, das neuroses, da própria personalidade humana. Assim como Wilhelm Reich, Jung foi "discípulo" de Freud e dentro de poucos anos rompeu com o "mestre", buscando caminhos diferentes da petrificada e dogmática psicanálise. Jung estudou todo tipo de cultura, etnia e religião que conseguiu, viajou por grande parte do globo, para formar uma teoria consistente, relativista e sobretudo humana.

Fascinado pelos símbolos, observando como os mesmos são importantes em todo o desenvolvimento da cultura humana, criou o conceito de arquétipo, e foi além da psicologia analítica, criando a hipótese de que abaixo do inconsciente pessoal, existe ainda o inconsciente coletivo, algo como a memória coletiva inconsciente da humanidade. Dessa forma, segundo o bigode, toda a humanidade está interligada através do inconsciente coletivo, de onde se originam os arquétipos, os símbolos universais. Tal afirmação me parece uma explicação razoável para fenômenos estranhos como visão remota/clarividência, previsão de acontecimentos através de sonhos (premonição) e sincronismos. Os espíritas explicam esses fenômenos de uma forma extremamente religiosa, que nunca me agradou, sempre apelando para o "darwinismo espiritual" onde tudo está relacionado a um nível de evolução espiritual, determinado por um conceito absoluto de bem e mal. A idéia de inconsciente coletivo tem seus paralelos atuais nos estudos de um bioquímico chamado Rupert Sheldrake e sua teoria dos campos morfogenéticos.

Jung é mal visto por toda a comunidade científica, assim como pelos psicanalistas (que trabalham em cima de conceitos tão metafísicos quanto Jung, mas se acham cientistas possuidores da verdade), sendo chamado de místico. É bom lembrar que a proposta de Jung não era criar uma teoria científica, até porquê parece impossível criar uma teoria científica da mente, partindo do ponto que não há com comprovar nem mesmo sua existência. O que Jung fez, foi criar uma filosofia, utilizando alguns conceitos da ciência ocidental e ao mesmo tempo, não rejeitando o universo da gnose, dos mitos, sonhos e símbolos. Foi de fato, um precursor na junção do pensamento ocidental e oriental, tendo publicado em conjunto com Wolgang Pauli (prêmio nobel de Física de 1945, criador da teoria do spin quântico e do princípio da exclusão) o livro "A interpretação da natureza e psique". Pauli criticou partes do trabalho de Jung, que foram revistas.

A teoria de Jung sempre esteve disposta a recebr críticas e ser revista, caracterizando-se assim como uma verdadeira filosofia, e não uma doutrina.

Algumas citações, retiradas do livro "O pensamento vivo de Jung" da Editora Martin Claret: 

"A sociedade espera, e tem razão para esperar, que cada um desempenhe o mais perfeitamente possível o papel que lhe coube; assim, um homem que seja sacerdote deve em todas as ocasiões desempenhar impecavelmente o papel de sacerdote. A sociedade exige-o por uma espécie de segurança: todos devem permanecer no seu posto, aqui um sapateiro, além um poeta. Não se espera que ninguém seja ambas as coisas […], isso seria "esquisito". Um homem desses seria "diferente" dos outros, não mereceria confiança. No mundo das letras seria um diletante; em política, uma grandeza "imprevisível"; em religião um livre-pensador. Em suma, seria suspeito de incompetência e inconsistência, pois a sociedade está convencida de que só um sapateiro que não seja poeta poderá fazer sapatos bem acabados."

 "O sonho é o teatro em que o sonhador é simultaneamente a cena, o ator, o ponto, o diretor, o autor e o crítico."

Isso poderia ter sido escrito por Stirner, defendendo seu "único", ou Nietzsche, defendendo seu "super-homem":

"A individuação, o tornar-se si mesmo… é o problema da vida em geral."

"A individuação não exclui o universo, ela o inclui." 

 Porém, esse trecho mostra que, ao contrário de Nietzsche, que defendia a todo custo o espírito dionísico e irracional e a morte do espírito apolíneo e racional, Jung propõe um equilíbrio entre  consciente e inconsciente:

"O consciente e inconsciente não constituem um todo, quando um deles
é suprimido ou injuriado pelo outro. Se hão de brigar, que ao menos
seja um combate leal, com direitos iguais para ambas as partes. Ambos
são aspectos da vida. A consciência tem de defender sua razão e
proteger-se; e a vida caótica do inconsciente deve ter a oportunidade
de também seguir seu fluxo. Isto significa simultaneamente conflito
aberto e franca colaboração. Era assim, evidentemente, que a vida
humana devia ser, o velho jogo do martelo e bigorna: por meio deles, o
ferro do paciente é forjado num todo indestrutível, um indivíduo. Eis,
em grandes linhas, o que eu entendo por processo de individuação." 

Isso é uma alerta para a geração Ian Curtis e Kurt Cobain:

"Conquanto tudo seja experimentado em forma de imagem, isto é, simbolicamente, não se trata de modo algum de perigos fictícios, mas sim de riscos muito reais, dos quais depende o destino de toda uma vida. O principal perigo é ceder à fascinante influência dos arquétipos. Se cedemos, podemos ficar paralisados numa situação simbólica ou na identificação com uma personalidade arquetípica."

Quantas pessoas se suicidaram influenciadas por seus ídolos, que interpretaram a figura arquetípica do eterno depressivo?

Para mais referências sobre Jung, esse site é uma boa pedida: http://www.cgjungpage.org/